Antes do início do horário eleitoral no rádio e na televisão, que começa no dia 26 de agosto, as campanhas dos candidatos na eleição de 2022 têm usado o YouTube para testar o tom dos vídeos que serão veiculados na TV.
Criada em 2005, a plataforma de vídeos do Google não chega a ser uma novidade desta eleição. O crescimento exponencial dela nos últimos anos, porém, é visto como um fato novo pelos marqueteiros das campanhas.
Mais da metade dos televisores no país está ligado à internet, segundo pesquisa do Kantar Ibope Media. De 2018, ano da última eleição presidencial, para 2022 houve salto de 34{200ef881d612a38dd83e818d62bed94b19414beb26f8f9fc9b9856dff27684f8} para 57{200ef881d612a38dd83e818d62bed94b19414beb26f8f9fc9b9856dff27684f8} do total de aparelhos conectados.
Nesse segmento, o YouTube é a plataforma mais usada para consumo de vídeos no país. Por isso, tem ganhado atenção das campanhas presidenciais. A avaliação é de que o público que vê televisão e será impactado pelo horário eleitoral também está massivamente na internet.
Com isso, as equipes tentam obter respostas em tempo real do sucesso de propagandas publicadas na internet em visualizações, curtidas e compartilhamentos em cada região do país. Os resultados servem para alinhar estratégias que serão tomadas na semana anteriores ao primeiro turno.
“O horário eleitoral vai ter uma importância para quem souber lincar ele com as redes sociais, principalmente o YouTube”, afirma Marco Aurelio Ruediger, doutor em sociologia e diretor de análise de políticas públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV/DAPP).
“A rede não é mais acessório, mas sim o inverso. Durante a campanha, já com a televisão, a lógica vai ser essa.”
Na disputa por relevância, o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), sai na frente com um canal oficial criado em 2009, com mais de 3,7 milhões de inscritos. Na plataforma, o tom dos vídeos destoa do que é publicado no Facebook e no Twitter.
As postagens na página oficial de Bolsonaro no YouTube se concentram em entregas de programas do governo federal, com vídeos em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rondônia, Maranhão e Paraná. Não há, por exemplo, cortes de vídeos em agosto com títulos com ataques a rivais ou contestações ao sistema eleitoral, o que presidente faz com frequência nas suas redes sociais, Facebook e Twitter.
Líder nas pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acumula 533 mil inscritos no seu canal oficial na plataforma, criado em 2018, nove anos após a estreia de Bolsonaro.
O petista apostou nas últimas semanas em vídeos com apoiadores populares nas redes sociais como a cantora Anitta e o novo aliado Rodrigo Janones (Avante), que desistiu da candidatura para apoiar ao ex-presidente.
Lula também testa ataques ao segundo colocado nas pesquisas. Em um vídeo de 30 segundos, publicado no dia 8 de agosto, foram reproduzidas falas do presidente minimizando a Covid-19 e ironizando os efeitos dela.
“Bolsonaro debochou da pandemia que matou 670 mil brasileiros. Quatrocentas mil vidas poderiam ter sido salvas. Não esqueceremos”, diz a propaganda.
O cientista político Sérgio Braga, professor da UFPR e pesquisador associado do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital, destaca que os canais das campanhas e os outros não oficiais servem como centros para a distribuição de conteúdos.
“Estudos demonstraram que a principal fonte de material compartilhado pelo WhatsApp em 2018, foi o YouTube”, afirma Braga.
Na plataforma do Google, candidatos têm ainda a opção de pagar para incluir propagandas no espaço comercial, que são veiculados antes de outros vídeos para públicos específicos no site.
A campanha de Lula gastou quase R$ 1 milhão em anúncios em uma semana. Nas peças, não há citação a Bolsonaro, mas são feitas comparações do período em que Lula foi presidente com o momento atual.
Em um dos vídeos impulsionados, a campanha petista mostra um prato de comida cheio, que começa a ser esvaziado enquanto o locutor cita inflação e aumento do preço do feijão e do arroz, até aparecer o recipiente vazio com fome escrito.
Os testes na internet se somam a outras ferramentas para usadas para análises que definirão o tom e linguagem utilizados nas campanhas, como as pesquisas qualitativas.
Realizadas com grupos de 8 a 12 pessoas, com perfis específicos, que são expostas a versões das campanhas produzidas que ainda não foram ao ar.
Essas pesquisas têm sido feitas com mulheres em determinada faixa etária, beneficiados por programas sociais e evangélicos, por exemplo. Após assistirem aos vídeos, os convidados são incentivados a debaterem entre eles e emitirem opiniões, que serão, posteriormente, usadas pelas equipes dos candidatos.